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Jornal de Saúde Ocular Comunitária 2009;1(1): 16-18

PROMOÇÃO DA SAÚDE

Prevenir a cegueira das lesões oculares através da educação sanitária

Reggie Seimon

Reggie Seimon
Oftalmologista e Consultor, Suvasevana Hospitals (Pvt) Ltd, 586 Peradeniya Road, Kandy, Sri Lanka. Fundação Sri Lanka Eye

As lesões oculares ocorrem sem qualquer aviso. Em um momento um indivíduo pode ver normalmente e no outro ficar cego ou, pelo menos, com dores intensas. Portanto, devemos estar sempre atentos e a par das situações que podem levar às lesões oculares. As lesões oculares podem ser mínimas ou graves. Deve-se tomar todas as precauções para evitá-las. Reparar uma lesão grave é quase impossível e é certo que mais vale prevenir do que remediar. A educação sanitária tem como papel promover a sensibilização do público no que diz respeito às formas de proteger os olhos e no que fazer em caso de lesão ocular.

Parar a cegueira

Parar a cegueira.
Foto: Sri Lanka Eye Foundation
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Não perca as crianças de vista. Gana

Não perca as crianças de vista. Gana.
Foto: Jenny Matthews/Sight Savers International
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Oportunidades educacionais para criar uma sensibilização com respeito aos “olhos saudáveis”

  1. Informar todas as crianças (desde a idade pré-escolar) acerca dos objetos, situações e ações que podem provocar lesões oculares.

  2. Informar a mãe das crianças - a principal responsável pela saúde do lar.

  3. Criar uma sensibilização no que diz respeito às lesões oculares a nível interpessoal, por exemplo, em situações de um para um, nunca perdendo uma oportunidade para ensinar às pessoas os perigos potenciais para os olhos e o que fazer em caso de lesão ocular.

  4. Criar uma sensibilização no que diz respeito às lesões oculares a nível de grupo, por exemplo, entre grupos que partilham uma profissão ou atividade em comum, tais como os soldadores, jogadores de futebol, ciclistas, agricultores e trabalhadores industriais. A nível de grupo poder-se-á veicular informações através dos agentes de saúde comunitária, professores, treinadores desportivos, voluntários e jornalistas, os quais necessitam igualmente de ser informados.

  5. Criar uma sensibilização no que diz respeito às lesões oculares no público em geral, através de meios de comunicação coletivos tais como as publicações (ex.: jornais), meios eletrônicos (ex.: rádio e TV) e os meios não eletrônicos (ex.: teatro de rua, espetáculos com fantoches).

  6. Solicitar aos líderes e governantes que introduzam e façam cumprir políticas que ajudem a prevenir a cegueira resultante de lesões, nomeadamente no que diz respeito à legislação relativa à saúde e segurança no trabalho, ao uso de cintos de segurança nos carros, à proibição de foguetes explosivos, etc.

  7. Defender, a nível global, questões como a proibição das minas terrestres. Do ponto de vista educacional, analisamos os tipos de situações ou atividades humanas que colocam as pessoas em risco de ficarem cegas devido às lesões oculares. A lista pode ser extensa e variar de local para local. Como primeiro passo, é vantajoso pensar nos riscos de diferentes tipos de lesões no próprio local onde vive.

Corpos estranhos

Situações de risco

Corpos estranhos voando em alta velocidade, por exemplo:

Estilhaço de partículas, por exemplo:

Viajar a grande velocidade num veículo aberto, por exemplo:

Indicações-chave para prevenir lesões oculares por parte de corpos estranhos

Corpos estranhos múltiplos

Situações de risco

Indicações-chave para prevenir lesões oculares por parte de corpos estranhos múltiplos

Lesões penetrantes

Situações de risco

Perigos dentro de casa e no jardim, como por exemplo:

Durante viagem

Durante assalto

Acidentes no local de trabalho e ligados à agricultura

Indicações-chave para prevenir lesões oculares penetrantes

Queimaduras ou escaldaduras

Situações de risco

Substâncias quentes deixadas ao alcance das crianças, como por exemplo:

Indicações-chave para prevenir lesões oculares devido a queimaduras

Queimaduras químicas

Este tipo de queimaduras normalmente acomete os olhos e partes do rosto. As cicatrizes nas pálpebras e as contrações resultantes de queimaduras provocam ceratite de exposição grave e perda do olho.

Situações de risco

Substâncias perigosas deixadas ao alcance das crianças, como por exemplo:

Acidentes causados pelo uso descuidado de substâncias perigosas

Indicações-chave para prevenir lesões oculares devido a queimaduras químicas

Queimaduras provocadas por raios ultravioletas

Situações de alto risco

As queimaduras graves na córnea e no rosto podem ocorrer após a exposição prolongada aos raios ultravioletas. Os raios ultravioletas não conseguem penetrar na córnea se estiverem na extremidade mais curta do espectro. Os danos mais significativos ocorrem no epitélio corneano. O epitélio desprende-se, causando muito sofrimento, mas reepiteliza novamente. Por exemplo:

Indicações-chave para prevenir queimaduras provocadas por raios ultravioletas

Queimaduras maculares provocadas por um eclipse solar

Uma causa de cegueira autoprovocada é aquela causada por um eclipse solar.

Indicações-chave para prevenir queimaduras maculares provocadas por um eclipse solar

Trauma contuso

Situações de risco

Situações em que um objeto pode atingir os olhos, por exemplo:

Indicações-chave para prevenir lesões oculares agudas

Lacerações nas pálpebras e sistema lacrimal

Situações de risco

Pregos afiados ao nível dos olhos

Ataques de animais

Indicações-chave para prevenir lacerações nas pálpebras e sistema lacrimal

Não perca as crianças de vista!

As lesões oculares podem ser evitadas na maioria dos casos e ocorrem majoritariamente na população mais joven. A intervenção-chave para prevenir a cegueira causada por lesões é feita através da promoção da saúde. É necessária a colaboração entre agentes comunitários de saúde, oftalmologistas e professores, profissionais dos meios de comunicação e educadores de saúde para informarem ao público. Também é necessário influenciar governantes e líderes de forma a minimizar a exposição do público em geral aos riscos existentes: os produtos industriais e domésticos potencialmente perigosos devem ser embalados e etiquetados de forma adequada, o uso de proteção para os olhos deve ser promovido em situações de perigo (e deve ser obrigatório, se necessário) e os brinquedos para crianças / o ambiente em que brincam devem ser examinados de forma a eliminar perigos potenciais para os olhos. Uma vez que os acidentes acontecem, a educação deve incluir a mensagem de que as lesões oculares devem ser tratadas como uma emergência médica e que os pacientes devem procurar ajuda imediatamente. Os primeiros socorros apenas devem ser feitos em casa em caso de queimadura química nos olhos. Em todos os casos, a educação sanitária deve informar as pessoas a respeito dos perigos de tentar tratar as lesões oculares por si próprias.


ESTUDO DE CASO

Diminuição das lesões oculares no Sri Lanka

Reggie Seimon

A Fundação Sri Lanka Eye tem trabalhado na prevenção de lesões oculares desde 1982. Nesta época, ocorriam mais de 400 lesões oculares nas festas de Sinhala, do Ano Novo Tamil (em meados de Abril) e no Natal. Todas essas lesões se deviam a foguetes.

De forma a combater este problema, produziu-se um documentário dramático de oito minutos que passou na rádio nacional no horário nobre. Um intervalo comercial na TV nacional após o horário nobre usou o formato de um cenário de discussão entre dois membros da nossa organização e o entrevistador, discussão essa baseada na visualização de fotos de lesões do ano anterior. Além disso, pintaram-se pôsters de desenhos animados em folhas de alumínio de 1,5m x 0,75m, os quais foram fi xados nas partes laterais e traseiras dos ônibus intermunicipais de longa distância. Esses mesmos pôsters ainda são impressos em papel, 1000 impressões todos os anos. O conjunto de sete pôsters é distribuído livremente nas escolas, exibidos em espaços públicos e encaminhados para todos os agentes comunitários de saúde (o Sri Lanka tem cerca de 6000 trabalhadores de CSP), voluntários/estagiários, jornalistas, operários e professores.

Fundação Sri Lanka Eye A prevenção de lesões oculares provocadas por queimaduras com cal constituiu outro objetivo para promover a saúde. No Sri Lanka, uma mistura de óxido de cálcio e de hidróxido (cal apagada) é embalada num pequeno saco de polietileno. A embalagem tem cerca de 0,5mm x 0,25mm. As crianças brincam com estes saquinhos, soprando o seu conteúdo e fazendo com que a cal entre nos olhos. Os olhos fi cam aparentemente normais após o acidente, mas os vasos sanguíneos vão invadindo progressivamente a córnea. As intervenções para promoção da saúde que pretendem ganhar a batalha contra as queimaduras provocadas pelo cálcio incluem avisos ao público para não comprarem a embalagem que contivesse cal ou, caso o fi zessem, cortassem a parte inteira e despejassem a cal para um recipiente (ex: pires ou folha de palmeira). As tentativas de combater o problema na fonte não foram bem sucedidas: os comerciantes não seguiram os conselhos de tentar evitar embalar a mistura em sacos de polietileno e o pedido efetuado ao Departamento das Pequenas Indústrias no sentido de proibir a pequena embalagem não teve sucesso. No entanto, graças às tentativas de promover a educação sanitária, hoje em dia é raro ver crianças com queimaduras provocadas pela cal.

Pôster sobre um foguete. SRI LANKA

Pôster sobre um foguete. SRI LANKA.

Foto: The Sri Lanka Eye Foundation

Pôster sobre a queimadura provocada pela cal. SRI LANKA.

Pôster sobre um foguete. SRI LANKA.

Foto: The Sri Lanka Eye Foundation

Lesão causada por um foguete. Sri Lanka

Lesão causada por um foguete. Sri Lanka.
Foto: The Sri Lanka Eye Foundation
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ESTUDO DE CASO

Envolver as crianças no entendimento das lesões oculares e desenvolver materiais de ensino

Victoria Francis e Boeteng Wiafe

O Livro de Atividades para Ter Olhos Saudáveis (ver recursos úteis na página 24) baseou-se numa pesquisa conduzida para crianças de escolas rurais em três países africanos, com as quais se usou a técnica Desenhar e Escrever (técnica em que se solicitam os pontos de vista e as experiências das crianças). Muitas das crianças citaram os acidentes como uma causa dos problemas oculares e usou-se uma seleção das histórias ilustradas para desenvolver este livro sobre a educação sanitária. A idéia era fazer um livro de atividades que contasse histórias pelas próprias palavras das crianças e encorajasse os leitores a pensar nos perigos potenciais que podem ocorrer durante as suas próprias atividades e no ambiente que os rodeia. Após cada história é fornecida informação sobre o que fazer em cada tipo de lesão ocular.